Resenha Política, por Robson Oliveira

QUEIMADAS

É impressionante o cinismo com que nossas autoridades estaduais tratam as questões ambientais. Depois que a população ficou sufocada com a fumaça que torna o ar irrespirável na capital e interior, e os hospitais abarrotados de doenças respiratórias, é que os governantes decretaram estado de emergência em razão dos incêndios criminosos. Todos sabem antecipadamente que em agosto o fogaréu toma conta dos céus de Rondônia, especialmente com fogo ateado em pastos. Todos também sabiam que a seca deste ano seria severa, inclusive com prognósticos fornecidos às autoridades pelos órgãos ambientais, mas nada fizeram para conter as chamas que transformaram os céus rondonienses em cinzas. Absolutamente nada foi feito, seja preventivamente, seja ostensivamente, para que as queimadas não alcançassem índices tão exasperadamente altos. O decreto baixado mais de duas semanas depois que o fogo se alastrou, queimando a fauna e flora de parques, reservas e estações ecológicas, em nada minimizou os estragos ocorridos. Aliás, não há nesses governos negacionistas política de preservação, ao contrário, a omissão no combate firme aos crimes ambientais favoreceu o caos que estamos vivendo.

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LEMBRANÇA

Esta coluna, quatro anos atrás, denunciou a exploração ilegal de madeireiras em reservas indígenas no município de Espigão do Oeste, que foram impedidas de continuar a cometer crimes ambientais em razão de decisão judicial. Mas, na época, uma gravação dirigida aos madeireiros com supostamente a voz do governador Marcos Rocha anunciava que os órgãos estaduais não iam reprimir os maus madeireiros que estavam descumprindo a legislação ambiental. Lembramos este fato para ilustrar a omissão estadual contra as ações ilegais deste setor e do agronegócio predador. Todos os índices de devastações ambientais aumentaram significativamente nos últimos cinco anos.

ESCASSEZ

O avanço do plantio da soja, embora empregue muito pouca mão de obra em razão da excelente tecnologia utilizada na agricultura expansiva, também é um fator de reflexo nos impactos ambientais que estamos vivenciando. Tais impactos influem inexoravelmente na escassez hídrica que assola Rondônia, em especial a capital. A tendência é piorar, mesmo os governos municipais e estaduais negando a realidade.

ESTRATÉGIA

Fora o decreto, algo que qualquer ignóbil teria baixado há trinta dias, não há uma estratégia de combate aos impactos climáticos em Rondônia. Sequer a contratação emergencial de brigadistas para apagar o fogo, o que revela a forma desprezível com que nossas autoridades veem nosso patrimônio natural. Ademais, a produção legislativa sobre a área é completamente favorável aos criminosos que se utilizam dos nossos recursos naturais de forma predatória e irresponsável. Quem ousa defender o meio ambiente é tratado como inimigo de Rondônia e vira um pária na ótica desses predadores. A estratégia, ao que parece, é mais fogo, para abrir mais pasto, para avançar em mais reservas, para enriquecer uns poucos. E para eleger uma turba inconsequente e desidiosa com a coisa pública. É a estratégia.

QUEIMAÇÃO

Ainda soam nos meus ouvidos as inúmeras críticas, todas depreciativas, contra o ex-governador Confúcio Moura que, no final do mandato, criou acertadamente algumas reservas ambientais em terras públicas, que pecuaristas e invasores de terra tomaram de assalto. O decreto editado não alcançou nenhuma propriedade particular, ao contrário, foram demarcadas em terras pertencentes ao estado. Nossos parlamentares chegaram a criar uma CPÌ para investigar essas reservas criadas pelo ex-governador, inclusive com ameaças judiciais que, ao final e ao cabo, foram inócuas em razão da legalidade. Não há uma única produção legislativa que proteja nossos mananciais, reservas e estações biológicas. Não basta queimar as florestas, eles precisam, para passar a “boiada”, queimar quem ousa defender o meio ambiente. Confúcio estava certo, hoje os céus de Rondônia provam quem errou. São tão arrogantes que nunca reconhecerão o erro.

REFLEXOS

Todos os rondonienses, inclusive os predadores, pagarão pela irresponsabilidade política da omissão. Os problemas respiratórios enchem nossos hospitais e postos de saúde. A população que não pode arcar com um plano de saúde é quem mais sofrerá com todos os reflexos de respirar um ar impuro e carregado de monóxido de carbono que possui uma enorme toxidade também pelos agrotóxicos que carrega. Chegamos ao caos ambiental. Numa região amazônica que deveria ser preservada por todos, em particular pelas autoridades.

PROGRAMAS

Os programas de TV e rádio na capital, destinados aos candidatos, não trouxeram nada de novo. Todos repetem os mesmos manuais eleitorais de antigamente. Nada de novo. Nada mais que blá-blá-blá.

MARIANA

Com umas peças eleitorais mais bem finalizadas, o programa de Marina Carvalho (UB) se esforça para superar um timbre de voz que enrola as palavras. No texto se esmera em apresentar a filha de Aparício Carvalho como alguém com experiência para gerir os destinos da população de Porto Velho. Ela adotou um figurino mais conservador para tapear e convencer o eleitor extremado, chegando até a fazer menção a religião. Uma crença que nas campanhas passadas não constava em sua fala, mas providencial numa campanha polarizada país afora. A iluminação, edição e continuidade do programa são bons, mas a excessiva exposição da candidata pode ser que prejudique na medida que a campanha afunilar. Os editores podem estar armando uma cilada para a própria candidata. Uma observação que somente saberemos se se confirma no final da campanha.

EGOS

O uso da imagem do atual prefeito Hildon Chaves na campanha da filha de Aparício é correto uma vez ser um prefeito bem avaliado. No entanto, o excesso da imagem do prefeito pode ofuscar a candidata que precisa, independentemente dos apoios, convencer que é capaz de fazer uma boa administração e mostrar ao eleitor que possui pulso firme e experiência para resolver os novos desafios municipais. Como neste barco tem mais timoneiros do que marujos, a campanha exigirá da moça capacidade de evitar que os egos a atrapalhem, uma vez que anunciam por onde passam que a eleição será ganha no primeiro turno. Um compromisso ignorado pela candidata do União Brasil com os maçons, realizado todas as eleições, provocou indignações.

FAVORITISMO

Em qualquer campanha os favoritos se sobressaem nas pesquisas, e o favoritismo de Mariana Carvalho, segundo os dados oficiais publicados, é real. Ao estar liderando a disputa o candidato tem mais espaço para cometer deslizes e eventuais equívocos. O que não é recomendado é tripudiar com os adversários porque não vencendo o primeiro turno, principalmente quem aparece bem na frente, num eventual segundo turno, a campanha desanda. A capital tem sido cruel com os favoritos. Hildon, por exemplo, ralou para vencer um segundo turno contra uma vereadora inexpressiva quando todos esperavam que aquela eleição acabasse no primeiro. Principalmente ele (Hildon), que regozijava dos feitos de uma gestão bem avaliada e menosprezava os opositores.

ESQUERDA

Célio Lopes (PDT, PT e Verde), candidato das esquerdas, também tem um programa bem editado, apesar de que o conteúdo das propostas deixa a desejar. Não passa despercebida a falta de uma menção ao presidente Lula, uma vez que o PT está na mesma coligação. O sumiço de Lula na campanha é proposital, visto que a influência do presidente em Rondônia é mais negativa do que positiva. O candidato não inspira ainda confiança no eleitor e aparece na tela da TV como uma cara de adolescente que não sabe repetir com segurança o texto preparado pelo redator do programa.

SERÁ O BENEDITO?

Já Benedito Alves (Solidariedade), o mais experiente dos candidatos, precisa urgentemente procurar uma fonoaudióloga para corrigir a forma com que pronuncia as vogais. Esta deficiência vocabular impede que o telespectador compreenda sem ruídos a mensagem das propostas. Além do tempo exíguo que o partido dispõe e que precisa ser aproveitado com competência.

TOURINHO

A juíza Euma Tourinho (MDB), candidata que possui capacidade para se comunicar com mais clareza, optou por uma fala protocolar sem criatividade nem exploração das virtudes de juíza contundente que sempre ostentou. Está irreconhecível. O programa não é bom e precisa aproveitar o tempo com mais criatividade. Este cabeça chata não entendeu ainda o motivo pelo qual o marketing explora o sobrenome da juíza aposentada como mote principal de divulgação da candidata, podendo massificar o nome através do pronome relativo, o que poderia distinguir dos demais concorrentes. Especialmente numa capital tomada pelas facções criminosas. Erra também quando faz críticas diretas ao prefeito que, atualmente, é bem avaliado. Hildon não é candidato e nem é um alvo que a candidata do MDB deveria se ater.

MORAES

Léo Moraes (Podemos) também está com problemas na dicção. Fala rápido e sem pausa para anunciar ao eleitor quais propostas devem ser implementadas caso seja eleito prefeito da capital. Mesmo a experiência por mandatos exercidos nos parlamentos não é suficiente para convencer a maioria do eleitor. Precisará ser mais proativo e sugerir ações que possam avançar na administração municipal além do que já foi feito. Como o atual prefeito não deixará grandes obras em andamento, a continuidade das ações não é problema. Portanto, propostas estruturantes, segurança, saúde e emprego teriam que estar nos programas eleitorais, e não estão. Saneamento básico, por exemplo, única promessa não cumprida por Hildon Chaves, poderiam atrair mais atenção do eleitor em dúvida.

COSTA

Samuel Costa, candidato pela Rede, não conseguiu produzir nenhuma peça eleitoral compatível com sua capacidade de comunicador. Não disse coisa sobre coisa e não apontou nada concreto para melhorar a vida do eleitor da capital. É possível que consiga melhorar porque conhece bem os meios pelos quais os candidatos apresentam as propostas. Por enquanto, a campanha é “franciscana” em todos os sentidos.

FROTA

O candidato do Novo, Ricardo Frota, é outro que despareceu das mídias. Embora seu partido de cunho privatista não disponha de tempo na TV e rádio, deveria utilizar com mais racionalidade e competência as mídias digitais. Como não tem nada de novo a apresentar, pelo menos até o momento, as novas ferramentas das plataformas digitais não são utilizadas pelo candidato como forma de suprir a falta de espaço do partido na propaganda eleitoral destinada aos partidos na TV e rádio. É um anônimo. E pelo andar da carruagem passará na campanha despercebido.

CACOAL

Adailton Fúria, candidato à reeleição de Cacoal pelo PSD, ruma para mais um mandato com a possibilidade de vencer como o mais votado proporcionalmente no estado. O ponto fraco da campanha é o vice, advogado Tony Pablo, apesar de não ser um obstáculo para vitória, segundo os prognósticos dos especialistas.

ACIRRAMENTO

Em Ji-Paraná, segundo colégio eleitoral estadual, o atual prefeito Isaú Fonseca (MDB), encalacrado com múltiplas denúncias, mantém as chances de um segundo mandato. O opositor, deputado Afonso Candido (PL), é o principal concorrente para desalojar da prefeitura o prefeito. O município tende a ser a campanha mais acirrada em nível estadual sem favoritismo. Apesar de que o liberal seja mais palatável que o encalacrado emedebista.

MONTE

Registro o recebimento do livro escrito pelo jornalista e escritor Montezuma Cruz, “Território Dourado”, descrevendo fatos e causos da época do ouro na capital. A leitura é um deleite. Ainda estou nas primeiras páginas, como aperitivo, abriu meu vício por uma narrativa deliciosa. Vou me embebedar de emoções com relatos de locais por onde passei e tomei alguns porres.  

DESPEDIDA 

A despedida do jornalista Carlos Araújo do programa radiofônico Hora do Povo vai deixar saudades. Uma pena o ouvinte da emissora ser privado de um dos melhores programas de debate e informação da capital. Carlinhos é da velha guarda do jornalismo que prima pela informação bem apurada, perguntas inteligentes e análises bem abalizadas.